Novamente no meu quarto. Tentei colocar naquele lugares em que se podia colocar algo, alguma cor. Tentei misturar. Jogar daqui pra lá. Tudo sobre um pedaço de papel velho ou novo, dependendo do ponto de vista. Era de ontem. Logo não era tão velho, mas já não era tão novo já que já existia o de hoje. Mas voltando as cores. Eram pouca as que eu tinha em mãos. Eram poucas e em pouca quantidade. Estavam se esgotando. E aqueles lugares permaneciam vazios. Vazios de espírito. Sei que eles podiam ainda vir a significar algo. Que quer que fosse. Poderiam ser alguém ou algo. Uma materialização de algo que estava no ar por muito tempo resolveu desanuviar as nuvens que pairavam sobre minha cabeça. É. Pluviosidade da mente. Choveu algo até então suspenso. Suspense. Num filme que via. Num livro que lia. Num texto que escrevia. Na cara de alguém que previa uma má noticia. E elas vêm em enxurradas. Vem como aquelas quantidades enormes de lama que caem das encostas em período chuvoso. Assim como elas muitas vezes levam vidas. Levam morte. Tudo que tem pela frente ou por qualquer lado. Lama. Lama. Lama. Nada mais importava. Só o desenho que começava a brotar. As cores que faltavam pediam para serem completadas por outras. Já sentiram o timbre das cores? Elas têm timbre. Elas falam com você. agora meu quarto tem novo quadro na parede. Pintado pelas cores que agem cooperativamente. Sem medo de ajudar a outra carente. Mas será que é só ajuda ou na verdade ela busca um destaque maior? Ostentar mais tarde – quem sabe daqui a alguns anos ou daqui a semanas numa lata de lixo – que ela ocupou maior espaço. Que ela tinha mais o que dizer no sue timbre adequado. Cada uma tem o seu momento. Às vezes sobram espaços para uma. Esta se sobressai. É aí que entram em ação seus ouvidos oculares. Ouça nos espaços vazios a cor que lá deveria estar. E principalmente: ouça no excesso de uma cor qualquer a cor que lá deveria estar, mas que por algum motivo faltou ao seu lugar.