quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

..

um mergulho em direção a irís.
talvez assim entre em contato com algo melhor.
talvez daí brote uma nova flor.
um ano mais passou.
ideias nasceram e morreram.
pessoas nasceram e morreram.
que eu possa encarar mais olhares.
e que um desses olhares cresça cada vez mais dentro de mim.
que isso seja algo bom.
que venham mais batalhas.
que não possam ser vencidas talvez.
levantar e correr.
mesmo com os joelhos partidos.
mais chuva vai cair.
mais vento no rosto.
mais luar atravessando a janela.
ano bom.
ano melhor.
mergulhar.
afundar.
renascer.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

nada de luxo em versos enxutos

estranha impregnação vinda de bem distante
chiam os "ésses" na cadeira do bar
andam em pares os românticos amantes
meus pés cansados encontram descanso no teu par.

esquento a cabeça e penso em voltar
ando em círculos e encontro versos bregas
penso em ser mais uma vez do ar
mas sua saia cheia de pregas
-enrolam minha cabeça-

entendo que nada disso é pra ser rápido
creio ter passado dos limites
mas pra que ser devagar se o que suga a vida é ávido?
então me deixe dormir e cante uns palpites.

mas é difícil não andar
é mais fácil despencar
se jogar
infinitivo é meu pesar.

nada combina nesse palavreado inútil.
pouca importa
não tinha nada de útil
a dizer nesta poemação que me corta.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

o peso das nuvens - breve

o peso do dia de hoje ta esmagando alguma coisa por dentro.
talvez seja por causa do peso das nuvens escuras que tão pelo céu hoje.
o corpo tá leve.
mas tem alguma coisa errada.
fora de lugar.
talvez querendo se acertar.
e sem saber como.
queria tanto a chuva.
e agora sinto falta do sol.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

homenagem póstuma - destinatário: dono de gancho

no bairro que eu morava quando criança, ia à igreja todo o sábado. no meio do caminho tem uma oficina mecânica. a oficina tinha um dono. o dono tinha um gancho no lugar da mão. esse gancho deve ter uma história particular que eu desconheço por completo, pois nunca tive uma conversa com aquele homem. hoje ele está morto. enterrado em algum lugar que eu desconheço. mas a história da mão dele ou do gancho começa com paixão. conheceu uma certa moça quando ainda era jovem. essa moça era bonita. tinhas uns tiques nervosos. nada que tirasse sua formosura. ela tinha vestidos bonitos. pernas bonitas. olhos encantadores. ele apaixonado. ela se apaixonou. foi uma paixão feliz e ele teve que viajar. num barco. barco para abaetetuba ou outro lugar. não esqueceu sua paixão enquanto viajava ou enquanto esteve fazendo seu trabalho em abaeté. trabalho que não sei qual era, pois minha cabeça decidiu não inventar. pois bem. se distraiu quando viu longamente nas suas retinas o rosto da amada. perdeu a mão. como perdeu, não dá pra saber, já que não se sabe seu tipo de trabalho. mas isso não importa. o que é importa é aquela mão perdida o fazia sorrir. ele voltou à belém ou outro lugar, onde eu provavelmente morava ou moro. a sua amada estranhamente e sem explicações não quis mais dele saber. se engraçou com outro moço. tristeza? nem pensar. o sorriso sempre lá. estampado. o gancho agora no lugar da mão; sempre brilhante. como o sorriso. entrei nos pensamentos dele, aquele gancho, a mão perdida era o símbolo do único amor que teve. e esse amor continuava a ser alegria sem se concretizar mais. e assim ele viveu. e assim ele morreu. sua moça amada, agora velha, não foi ao seu enterro. eu também não fui. soube de longe que ele tinha morrido. e morreu sorrindo. limpando o gancho. ataque de coração. a oficina tá lá. o gancho debaixo da terra. e a paixão por aí deixando marcas. e assim homenageio alguém que não conheci e de quem nada soube,mas que teve uma vida feliz inventada por mim.
em paz.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

tenho um certo livro que fala de cisnes e de ateísmo que já foi de outros e que hoje tem as páginas amareladas e encardidas de tanta leitura.
poeira!
acumulada e guardada!

mas quero um livro novo
que envelheça com a minha leitura
que amarele como a minha vida e junto dela.
junto dos meus olhos, de branco à amarelo.
[mais uma aventura]

sábado, 31 de outubro de 2009

l'enfant

falo da criança que corre sem que nem pra que.
pouco importa pra onde ela vai.
pouco importa se a pessoa da qual ela se esconde nem existe.
pouco importa se ela cai diante de tamanha façanha que para nós parece algo impossível.
ela não precisa de mais ninguém.
ela nem parece ser alguém.
só parece.
pois é alguém que é mais do que alguém como a gente.
ela ri porque tem que rir.
ela fala quando tem que falar.
ela chora quando tem que chorar.
falo da criança que se esconde.
falo da criança que sorri pra outra criança sem querer nada mais do que sorrir.
falo porque falo.
esqueço que já cresci por um breve instante.
e na minha cabeça corro como a criança que corre sem um porquê e sem direção dentro da igreja metade escura metade clara, no meio da missa.
l'enfant.

A Jean Vigo

domingo, 25 de outubro de 2009

monólogo noturno

- o ar se esgota em meu peito
a água sai por todos os meus poros

- não, não pode ser assim.

- pouco me importa o que pensas!
não me interessa como me olhas!

- não diga isso!
não fale desse jeito!

- esqueça que um dia foi de tal forma,
ou que foi bom, ou que foi ruim.
É melhor que penses que não foi nada!

- era bom se apaixonar.
era bom sentir nas veias a paixão.

- era bom. mas a ilusão sempre foi muito melhor.
o desespero sempre foi mais inteligente.

- não fale de desespero.
olhe para a tela, é o nosso filme.

- outro dia quem sabe.
talvez eu reveja esse filme quando estiver à beira da morte.

- ainda bem que o caixão é só para os mortos.

- ele nem te liga mais.

- de quem você está falando?
estamos só nós aqui.

- com quem eu estou falando?
eu estou sozinho aqui.

- ainda bem.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

por debaixo da pele
chegando aos vasos capilares
se esconde o segredo
que ele pensa ser dele
que ele esconde dela
que não respeita

desceu vários andares
caçou o desejo
esqueceu de retocar a costela
a vida se tornou tediosa
ele pulou o jardim
e mal espera o que o espreita

andou por decepções
sentiu o peso da maravilha
encontrou na dor o único prazer
esqueceu que no pirolito estava a força
entendeu que o amor não passa de história
e o trabalho não deixa de ser real

ele diz, tenho medo
ela diz, eu também
mas rolam no orvalho
e essa história se tornou enfadonha
...
...

terça-feira, 29 de setembro de 2009

para bukowski o amor é um cão dos diabos
não digo "era" porque ainda é mesmo que bukowski já esteja morto e enterrado.
só.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

fragmento plástico.

breve ilusão me tomou pela manhã.
enxergara as bolhas do plástico inflarem.
este plástico cobria fotos antigas.
fotos que me mostram que pouca coisa mudou ao mesmo tempo que tudo muda.
as palavras me escapam como o ar foge de um pulmão canceroso.
encontro pessoas conhecidas que não aparentam estar doentes.
no dia após elas morrem.
as bolhas de ar continuam a inflar.
a parede do meu quarto agora pesa sobre mim.
nem o sono me salva.
o plástico bolha está revivendo e eu não posso fazer nada.
as fotos já podem ser trocadas.
os personagens das fotos agora estão tão velhos!
nenhum valor nessas palavras.
nenhum valor sobre minha cama.
tomo coragem e enfrento o plástico.
tudo se apaga e se acende logo depois.
vejo tudo meio embaçado.
não escuto nada que vem daquilo que está além da minha visão.
só bolhas de ar à minha frente.
só bolhas de ar.
ar.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

da perspectiva do funcionário público se vê o vegetal fértil

olhando de soslaio daqui do meu lugar cativo em frente ao computador. daqui eu pude ver. todo o tempo a mesma imagem. com pequenas mudanças de tonalidade. mudanças de luz. mas, principalmente mudança de idade. mais velha ficava ela. ela que um dia havia sido tão ativa - pelo menos é o que alguns dizem hoje. as rugas tomavam cada vez mais sua face gorda e cheia de pequenas manias tão dignas da idade e da quantidade de falta vontade existente naquele espírito.
cada vez que eu olho pouca coisa muda. uma árvore mude mais talvez. uma planta dá seu fruto e morre. mas ela permanece parada. não gera nada. se diz cansada. toma remédios controlados. não dorme. às vezes enche a cara de cerveja. e outras muitas vezes acaba dormindo.
esse vegetal que vejo a minha frente peço e rogo que não seja eu no futuro. mas parece que já sinto a mediocridade dominar meu espírito e tirar qualquer força que eu ainda possa ter.
o rosto não muda. apenas mais rugas
centrífuga do tempo.
visitas rápidas.
tudo parece tão lento, mas passa tão rápido.
eu continuo a digitar e a imagem que vejo permanece a mesma.
um dia tudo isso acaba para ela.
espero não tomar o seu lugar.
espero não me tornar esse vegetal seco e infértil.
mas o eterno cotidiano persiste.
em cada canto.
em cada via.
em cada gabinete.

medo.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

por um breve momento andei pelas ruas aqui de perto.
uma passeata corria pelas ruas.
uma faixa empunhada.
umas dez pessoas no máximo.
era noite.
quem iria ver tamanha manifestação.
apenas aqueles que lá estavam e eu.
talvez isso seja mais importante doque andar e multidão e não fazer nada.
foi aíque eu cheguei em casa e tomei um refrigerante de laranja achando que ele ajudariaa curar minha gripe.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

da agressividade

Portando cinco reais na carteira, eu os rasguei. voltei meu olhar para o lado direito, abrindo o plano viu-se que com quem eu falava estava no lado esquerdo, rasguei ao meio meu interlocutor. pouco me importava de quem se tratasse. incursões pouco revolucionárias sempre alcançam meus pensamentos, normalmente imersos em coisas ditas em francês, as quais não entendo. rasguei ao meio meu livro de francês. voltei meu rosto para o lado esquerdo e falei. percebi que o lado esquerdo era da perspectiva do espectador, rasguei o espectador ao meio. me distanciei um pouco mais do fundo branco. encontrei em outro ponto alguém muito mais interessante e por isso mesmo decidi rasgá-lo ao meio. as linhas começaram a ficar muito tortas, as rasguei.


agora

as palavras

sa
em mei
o

distanciadas.

rasguei ao mei
o
tudo mais ao
me
u redo
r


não encontrando mais

o que
ra
s
gar


parto para o fim

com o intuito d

e tu
do
colar

com
a mes ma
agresivi
dade
com que ras
guei
e assim se
gue.


colando , juntando e depois quem sabe voltando a ra
s



gar.

terça-feira, 14 de julho de 2009

my eyes are blind but i can see
não é por causa da neve que eles estão cegos
é algo menos leve
é algo mais escuro
mas ainda assim i can see

me guio através das notas
e nesse momento acaba qualquer inspiração
e paro de escrever
cego de vez