sexta-feira, 14 de novembro de 2008

enquanto a inconsequência se fazia em pedaços
e do breve encalço
me saltava a solidão

eu pensava toda noite
em como seria o dia
em que eu me tornaria um não

daí veio a manhã
e eis que de dentro dos espaços
surgiu um breve suspiro que percebeu que eu lia

percebi então que se desfazia
uma entrada de uma escada
uma bela mansão

nada mais do que triste conclusão
nem belos poemas
nem cartas de amor

só queria naquele dia
pode morrer no teu olhar
e nascer dentro de uma bela canção


rima pobre ou rica
agora tanto faz

terça-feira, 11 de novembro de 2008

__________________________________________

Faces eróticas de um lado. marcas de nascença de outro. marcas televisivas numa perna. gangrena que parte em dois a vida pública. nada que reste entre quatro paredes. ruínas que se fazem de ruínas. poesia que se entrega ao acaso. instinto que se perde num vão desespero racional. a busca pela resposta que se encontra finalmente sem solução. uma criança que chora por comida. um filme que roda sem parar mostra um parto. uma carroça cai sobre um homem pobre. uma mulher já sem os dentes se entrega a prostituição. continuamos vivendo na lama. continuamos sem enxergar a luz do sol. exercemos um direito inocente que se chama voto. a isso se chama liberdade. a chama dizem que já se apagou. a arte dizem que já morreu. o rock dizem que já caducou. ao novo dizem que já ficou velho. a notícia dizem que já ficou obsoleta. a célula tronco dizem que tem futuro. ao futuro dizem que já virou passado. a resposta para a pergunta fundamental dizem que não sabem. existe vida após a morte? não sei. me ocupo em escrever pequenos textos que não publico. vou ao cinema e ao teatro. encontro pessoas na rua que pensam que sabem para onde vão. encontro em cada esquina um cachorro que mesmo depois de morto continua a ser chutado. encontro em cada esquina a repetição da última cena. encontro em cada esquina uma criança que continua cheirando cola, porque comida não tem. aí eu simplesmente viro a cara. encontro em cada rua um beco sem saída. em cada depressão algo mais fundo. em cada fungo um pouco de vida. em cada sonho um pouco de dinheiro. em cada dinheiro uma gota de sangue. em cada gota uma mentira nova. em cada mentira uma única verdade: não existe uma única verdade. e assim se faz a vida. que se renova e que se insiste em se chamar de vida. em que se insiste em chamar de novela. e que continua tendo um final feliz que nunca chega porque não passou de ilusão. e se pergunta: ainda há esperança? e eis que surge um nobre cavaleiro que diz: me chamo morte! e eis que surge um outro e diz: me chamo vida! e eis que nada mudou desde sempre. estamos aqui agora e depois nada.