terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Faces eróticas de um lado. marcas de nascença de outro. marcas televisivas numa perna. gangrena que parte em dois a vida pública. nada que reste entre quatro paredes. ruínas que se fazem de ruínas. poesia que se entrega ao acaso. instinto que se perde num vão desespero racional. a busca pela resposta que se encontra finalmente sem solução. uma criança que chora por comida. um filme que roda sem parar mostra um parto. uma carroça cai sobre um homem pobre. uma mulher já sem os dentes se entrega a prostituição. continuamos vivendo na lama. continuamos sem enxergar a luz do sol. exercemos um direito inocente que se chama voto. a isso se chama liberdade. a chama dizem que já se apagou. a arte dizem que já morreu. o rock dizem que já caducou. ao novo dizem que já ficou velho. a notícia dizem que já ficou obsoleta. a célula tronco dizem que tem futuro. ao futuro dizem que já virou passado. a resposta para a pergunta fundamental dizem que não sabem. existe vida após a morte? não sei. me ocupo em escrever pequenos textos que não publico. vou ao cinema e ao teatro. encontro pessoas na rua que pensam que sabem para onde vão. encontro em cada esquina um cachorro que mesmo depois de morto continua a ser chutado. encontro em cada esquina a repetição da última cena. encontro em cada esquina uma criança que continua cheirando cola, porque comida não tem. aí eu simplesmente viro a cara. encontro em cada rua um beco sem saída. em cada depressão algo mais fundo. em cada fungo um pouco de vida. em cada sonho um pouco de dinheiro. em cada dinheiro uma gota de sangue. em cada gota uma mentira nova. em cada mentira uma única verdade: não existe uma única verdade. e assim se faz a vida. que se renova e que se insiste em se chamar de vida. em que se insiste em chamar de novela. e que continua tendo um final feliz que nunca chega porque não passou de ilusão. e se pergunta: ainda há esperança? e eis que surge um nobre cavaleiro que diz: me chamo morte! e eis que surge um outro e diz: me chamo vida! e eis que nada mudou desde sempre. estamos aqui agora e depois nada.

2 comentários:

Filipe Almeida disse...

Caralho, que foda!
(ótima crítica literária a minha né?)

Nossa, fazia tempo que lia um texto que manifestasse tão bem o mal-estar contemporâneo. Onde não só os temas foram referenciados, como também trabalhados de uma forma que lembram hiperlinks, pra mim só a construção do texto falou metade da mensagem...
nossa cara, achei fodástico mesmo.
Abração.

Linna disse...

Ahh, eu não achei tão bom assim...
huuhuhuh
mentira, gosto muito dos teus escritos...desde a época de convênio!=D
As verdade a gente encontra ao longo da vida...
Um dia encontres a tua...a minha, continuo na dúvida!
beijos!