ela enfiava a faca afiada cada vez com mais força pelas suas narinas. lá
embaixo todos aplaudiam o
espetáculo da decadência. o que me deixa espantado sem que eu me espante é que todos torcem pela queda da heroína e quando ela finalmente cai todos choram, talvez por um tipo de perversidade que se conserva na alma de todos, perversidade que falseia antigas atitudes. atitudes que punham nas alturas o próprio agir da heroína que se auto
destrói. o pior é que ela não se desfaz por um bem maior.
nao existem mais bens maiores dos que os bens que estão no conforto do lar. assim como persiste um conforto em ver no
espetáculo da destruição alheia sua própria destruição, mas, claro, ali, distante, alguns metros acima da cabeça, no altar dos heróis. e assim se fabricam os bons e velhos mitos. não mais da criação, mas da destruição. vida longa ao herói que se mata por matar. porém ele não morre por nada, ele morre para que o circo continue vivo e respirando. e nessa respiração espalhando o mesmo ar podre que vem desde tempos antigos mantendo nossos pulmões (
des)cerebrais funcionando, pois para o circo ele só pode funcionar de uma forma: da forma que não pensa. aguardemos o nosso próximo
messias, que morre por nós, por nossa
mediocridade. amém.