rua conceição, outubro 2010
mal e porcamente eu dediquei minha vida à infrutífera tentativa de entender como acontecia a coroação do romance. acho que me dediquei pouco. nos meus momentos de carência busquei nos lugares errados um calor. fogo em latas lixo. queimei papéis velhos que poderiam conter verdadeiras obras primas da dedicação de um coração que escreve. perdi a hora de buscar dentro de mim o maior carinho do mundo. aquele que só se encontra só. dediquei-me demais às tendências da investigação psicanalítica do que viria a ser o amor. e se o amor nem existir? e se for só uma das tantas ilusões que nós já construímos?
encontrei prazer em escrever, mal e porcamente, linhas sobre mim. mas nem são sobre mim. são sobre o que vejo nos outros e tomo pra mim. minha história esteve espelhada na vida dos outros. mudei-me para cá buscando a salvação ou a perdição total. outra ilusão. mudar de lugar não mudou minha alma de lugar. ela continua pairando por aí. por onde você mora que é onde supostamente mora meu amor. é, amigo, falo dela mesmo. acho que estou voltando. encarei por muito tempo essas fábricas. construí uma ficção sobre corações de plástico e insultos coisificados.
acho que é hora de voltar. para casa.
Carlos Minguado