quarta-feira, 14 de setembro de 2011

transborda

para boris.macabeia
mãe, minha amiga é como eu
mãe, ela poderia ser sua filha também
minha amiga é tão perdida quanto eu
ela encontra importância quando pensa em desdém

minha amiga quer se livrar de si mesma
ela quer andar sem vestes
ela quer andar sem corpo
ela quer pairar

minha amiga talvez saiba rimar mais que eu
mas ela é tão como eu
talvez ela não ache isso
talvez eu que queira ser como ela

minha amiga tem muita raiva
eu tenho muita raiva
ela é como eu a vejo
e ela às vezes se deixa ver

e faz tempo que eu parei de tentar
tentar rimar
porque não tem rima quando se trata da minha amiga
ela transborda as estrofes
ela transborda o corpo
ela transborda de alma
ela sofre e sorri
ela é minha amiga
ela transborda em mim

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

a paisagem

a paisagem do teu rosto revela mais do que escavações revelariam sobre a história da humanidade. encontro em uma olhada rápida as transformações iniciais do animal em ser pensante. percebo olhando mais atentamente quanto relevo possui a alma humana. a alma humana que não cessou de expandir. aquela alma que planta coisas imaginárias para colher frutos saborosos. teu olhar é o espelho pelo qual posso chegar a civilizações extintas. conheço o mundo antigo. enxergo por um momento a idade das trevas. reconheço o renascimento. me intrigo com a semelhança da tua íris e a íris dos telescópios. agora você enxerga distante. dentro de mim. sinto o calor do teus olhos chegarem até meu estômago. vivificadas as sombras do passado é hora de retornar ao presente, onde és o atual ponto de chegada de correntes que flutuam há muito tempo. tempos imemoriais que pra mim se tornam memória nova quando verifico que teu rosto é fotografia da evolução. e a evolução continua. e o envelhecer é a mudança da paisagem. e teu rosto passará para tua filha, e ela será a paisagem para alguém algum dia. e eu já serei parte da história. esquecido e relembrado.