Todos os dias ele
estava fumando na janela. Olhava quem passava. Olhava quem chegava.
Olhava quem partia. Todos os dias na janela. Debruçado. Jogando
fumaça. Os olhos movendo-se calmamente. A pele negra brilhando à
luz do sol nascente; a pele meio idosa, mas sem muitas rugas. Todos
os dias eram assim.
Todos os dias eu
passava. Chegava. Partia. Não me debruçava em canto algum. Não
fumo. Minha pele ainda não tem tantas rugas. Meus olhos movem-se com rapidez. Reclamo preguiçosamente do sol nascente. Todos dias indo
assim.
Nunca soube seu nome.
Nem hoje, quando soube que ele havia morrido, perguntei. As pessoas
daqui devem saber. Mas decidi deixar assim. Hoje preguiçosamente ao
sol nascente, um ano a mais completado. Dobrei a esquina. Muitas
pessoas se reuniam à porta da casa. Pensei num velório.
Andei mais um pouco.
Debruçado na janela , ele... uma menina. Na brecha da porta de entrada o
reflexo do crucifixo. A confirmação do velório.
Todos os dias são
assim.
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