sábado, 31 de julho de 2010

A.N.E. Acabou

deixei minhas unhas crescerem
pra arranhar e rasgar a tua pele - em prazer
deixei meus dentes polidos
pra arrancar um pedaço da tua carne

meus olhos vermelhos
pra queimar os teus azuis
minhas orelhas afiadas
pra ouvir teus gemidos

meu suor mais salgado
pra te banhar
e te fazer sentir no mar
e te explodir junto com as tempestades solares
que fazem minha pele tostar junto da tua

meu cheiro mais doce
pra ver se te intoxicava
e te deixava mais à vontade
com minhas vontades


agora

minhas unhas
pra arrancar tua pele e tirar sangue
arrancar teus olhos
te despelar

meus olhos
pra arder de ódio
junto aos teus olhos
de cão moribundo

meu suor
pra te embebedar
e te causar cirrose
e câncer
e ver tua dor maçante

meu cheiro
pra te colocar no ponto
de entrar na câmara
e ver sufocar

depois

esquece!
acabou!
ferida!
horror!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

cartinha de carlos minguado

Veracruz, 29 de outubro de 2010
caro amigo,
agora que a solidão começa a rodar os cantos da minha casa, de súbito surge uma questão que não se cala:
por que me sinto apaixonado quando escuto alguma música amorosa e na verdade não tenho paixão por ninguém?
seria uma necessidade microscópica que se encerra no cérebro (ou no coração) pedindo que
surja alguém por quem eu possa finalmente conectar as músicas que escuto. as coisas que leio.
os filmes que vejo. como é possível estar apaixonado sem estar apaixonado? por si mesmo?
não creio. talvez hajam aqueles que se ame tanto ao ponto de não amar ninguém.
mas não creio que seja eu. às vezes acho que não me amo muito. ainda mais estar loucamente apaixonado por mim mesmo.
e começa mais uma canção. o coração acelera. e não tenho ninguém pra olhar nos olhos.
abraços,
carlos minguado

sexta-feira, 23 de julho de 2010

desandou o bolo que tava no forno

...

um dia ainda parto minha cara ao meio por me sentir um egoísta mesmo não sendo um.
um dia ainda deixo de vender minha alma.
um dia ainda páro de me sentir como uma pessoa má.
um dia deixo de ler livros pela metade.
um dia páro de magoar.
um dia solicitarei que você pare de fumar.
um dia ainda indicarei alguém que valha a pena para ser meu presidente.
um dia quem sabe eu deixe de ser indigente.
um dia talvez eu pare de esperar por um dia pra fazer as coisas.


parto a cara e o coração.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

de cabos de energia e de comunicação

você me deu muito o que pensar. pensar no que é possível ver através da janela se a gente não dormir durante a viagem. pensar que uma imagem estática pode estar vibrando por trás, cheia de movimento. pensar que a gente pode escolher. pensar que eu nem sei o que tô fazendo aqui, e continuar pensando...sem resposta. pensar que não dá pra ter medo do inevitável. pensar em abraçar o que vier. e quando eu digo você, na verdade são vocês. talvez ninguém perceba. ou talvez todo mundo veja. experimente enquanto estiver na estrada. em movimento. olhar pela janela. pros cabos que levam energia e comunicação. em como eles se cruzam. em como eles fazem ondas. em como eles parecem terminar e recomeçam. em como eles são dois e depois se juntam e fazem nascer um terceiro que vai e se choca contra um poste. talvez não tenha nada pra ser pensado sobre isso. talvez ninguém sinta nada. ou talvez daí alguém extraia uma metáfora da vida. ou quem sabe as metáforas da vida aparecem o tempo todo. e a gente de vez em quando consegue enxergá-las. quem sabe.