quarta-feira, 11 de agosto de 2010

primeira cartinha de carlos minguado

Veracruz, 13 de novembro de 2009
amigo,
o doze vai até o limite do treze. foi o que ela me disse aquela noite.
eu senti que ela estava certa. não entendi exatamente do que ela falava.
mas sei que o pensamento era correto. ela poderia estar falando da rua 12 e da rua 13.
ou simplesmente dos números. pelo seu raciocínio ilógico, caro amigo, ela provavelmente me transmitia planos
para proteger-me durante a guerra que se aproxima (pra você sempre tem uma guerra que se aproxima;
talvez ela já tenha chegado e você nem percebeu). na realidade, naqueles dias o mundo me assustava cada vez mais.
quadrilhas de crianças roubavam o que os outros diziam ser propriedade privada e por isso
as crianças eram mortas todos os dias. e no outro dia pareciam mais. um dia esbarrei em alguém numa esquina.
pedi desculpas. minhas desculpas recebidas com um soco. permaneci no chão por algum tempo.
à propósito, isso foi na esquina da 12 com a 2. a próxima era a treze.
ela disse que não suportava mais e que o doze vai até o limite do treze.
essa dor foi pior. descobrir que doze vai até treze e depois some. ou vira treze. se transforma?
existiu, na realidade, doze e existe treze? aí ela virou e foi embora. confesso que não entendi muito bem nada sobre
a questão do números. mas sei que desde então ela nunca mais apareceu e também não a procuro.
tudo tem limite.
abraços,
carlos minguado

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