quinta-feira, 25 de novembro de 2010

cartinha de minguado

crinas, 31-12-2012

nascemos e crescemos na falta. falta de algo que nem sabemos o que. falta que nos
ronda a todos os momentos. nos espreita ao menor sinal de
dificuldade. faz com nos rendamos às vezes. às vezes lutamos já sem nem saber o porque.
cansa saber que falta algo assim. sem nome.falta nome porque falta imagem.e isso que falta gera
tanta falta. falta de amor aos que nos cercam. falta de paciência. falta de tolerância.
andei junto aos marginalizados. vi que para eles às vezes falta muito pouco. vi que eles sofrem.
sofri junto com eles. raiva junto com eles. percebo que até hoje minhas cartinhas à você, caro amigo,
sempre tiveram tudo a ver com a falta. percebo que a falta me isola e ao mesmo tempo me une.
vejo que para você também falta algo.
talvez você nem perceba. talvez você leia minhas cartas e depois as queime. ou simplesmente aumente a pilha
de lixo que já quase destrói nosso mundo. talvez você não perceba que o que falta a você e a mim
somos nós mesmos. todos que por aqui insistem em caminhar. em respirar. numa teimosia incompreensível para
qualquer ser com um pouco de discernimento. de falta vive o homem. com falta morre o homem.
sem a falta o homem não é homem.
um dia volto pra casa.
abraço,
carlos minguado

terça-feira, 23 de novembro de 2010

vazio

procurar no vazio
a infinitude de barris cheios
cheios de amor
cheios de terror

mergulho no infinito
em busca do finito tempo
encontro cheio meu pensar
de pesar

o que parece cheio de tristeza
é a luz no fim do túnel
porque o que parece normal
restaura a incompreensão da anormalidade

terça-feira, 9 de novembro de 2010

breve de carlos minguado

rua sombrero, 21 de dezembro 2011
acúmulo. acumulo. acumulando. acumulei.
acho que o cúmulo maior é guardar tanta coisa: no cérebro, no coração, em porões, em estantes, em hds e nunca usar nada disso pra mudar nada. eu me pego pensando nesse cúmulo e me auto incrimino. o que que eu fazendo? eu já li muita coisa. já escutei muita. já vi muita coisa. ainda tenho muito pra ver/ouvir/ler. mas não quero chegar no fim da vida e perceber que armazenei muito e não usei isso pra nada.
nao desacumulei pobreza. não extingui sentimentos ruins. não esvaziei pulmões cheios de ar que não servem pra nada.

mas ai eu deito e durmo com um gosto de revolta na boca. no outro dia já estou anestesiado de novo.

preciso voltar pra casa e mudar algo por aí.

carlos minguado