domingo, 17 de abril de 2011

dia

ele se despediu de todo mundo na terça feira, dia 25. andou de porta e porta no trabalho. do serviços gerais ao chefe, mas talvez não nessa ordem. carimbou mais alguns papéis antes das 17 horas. foi logo depois de carimbar os papéis que ele iniciou seu caminho de despedidas. ninguém pareceu estranhar as despedidas dele. ele sempre fora educado. no pensamento ele já trazia confirmada a ideia de que aquilo era o fim. seu último dia. saiu pela porta da frente. se despediu do porteiro. entrou no carro que já tinha 10 anos, depois saiu do carro quando já estava em frente a sua casa. se despediu do carro. passou pelo jardim e deu adeus. passou pelo vaso de samambaia e deu até logo. como se houvesse espaço para plantas para o local que ele iria. foram 35 anos de serviços prestados. foram 25 anos de casamento. 17 anos como pai. 14 anos como gerente da firma. 12 anos como presidente honorário do clube de futebol da vizinhança. 5 anos como aprendiz de um poeta vagabundo com o qual iniciou uma amizade que poderia render bons frutos, não fossem os constantes furtos que o poeta cometia quando ia a casa dele. toda essa contabilidade passava pela cabeça dele. entrou em casa. esposa. filha. boa noite. despedidas. dormiu. descansado. era finalmente o fim do seu último dia. quarta feira, dia 26. carimbando papéis. mais um dia. ainda não foi dessa vez.

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