terça-feira, 31 de maio de 2011

do marcador de livro antigo

quantas vezes mais
cairás de dentro do livro
agora corroído
pelas traças imortais?

e ainda virás
pousar sobre o vento
esquecendo em meu aposento
o odor que se refaz

eis que encontro em teu abrigo
amigo velho
tantos tempos em que me espelho
tantas histórias contadas sem ter sabido

e ao olhar pra ti me lembrarei
que as lembranças que agora mostras
ainda que decompostas
são parte do caminho que guiei.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

gengiva

parte da gengiva retirada. o herói cambaleava. no seu rosto via-se algo que vai além da simples dor física. uma lembrança talvez. algo que dói um pouco mais. ele avistava agora sua antiga casa. mas sem hesitar a explode com 10 kg de explosivos. cambaleando o herói olha para a frente. sangue sobre os dentes. serpentes aos seus pés. intromissão rápida. no canto esquerdo da sua visão ele enxerga um anúncio antigo da coca-cola. sente sede. gelado faria bem sobre a carne viva na boca. mas no seu caminho não há paradas. sem cambalear ele decide que cambalear faz parte do seu jeito de andar. e que tudo afinal está como antes. nessa visão complicada das coisas, ainda que uma resolução simples, ele encontra um pouco de paz. continua o caminho. explode mais dois ou três prédios. sem ligação alguma com a infância, nem com o presente, adulto. prevê que seu caminho chega ao fim. mais sangue brota da ferida aberta. uma ave passa por ele. ele não teme. vê um sorriso. ao lado da estrada. se concentra naquele sorriso. aquele sorriso é tudo pra ele agora. nada mais importa. larga suas bombas. deita-se no chão. olhado do alto se assemelha a um anjo. mas quem o olharia do alto. ninguém. o sorriso. marcado na parede. só um sorriso. o herói fecha os olhos. sua missão não foi cumprida. faltou um prédio a ser detonado. na parede o sorriso começa a sangrar. logo aparece o caminhão de lixo. adeus ao herói. prédios se recompondo. gengiva que sangra. na parede. só nela. sem mais explosões naquele dia.

domingo, 15 de maio de 2011

exigências

reciprocidade_______________ inexistência de um só

cidade ______________________ e eu só

romance_______________ imaginação

imagem______________ impossível

amanhã ______________mais do mesmo

segunda-feira, 9 de maio de 2011

nada a contar

a primeira coisa que pensou ao acordar foi em seu amor. mas não foi um pensamento bom. levantou. se banhou. escovou os dentes. após o café, partiu para o trabalho. pouco importa o que ele fez naquele dia. quem encontrou. coisas que derrubou. o que importava era a história que se desenrolava dentro da cabeça dele. reinventava a cada momento. a cada minuto um final diferente. e o pensamento inicial da manhã permanecia ali. e o tempo passando. narrativa interna. voltou pra casa. se banhou. dormiu. a narrativa era só dele. o pensamento também. o sono também. uma história que não diz nada. sabe-se lá o que ele pensou. talvez um pensamento bom no outro dia.

sábado, 7 de maio de 2011

mais uma de carlos minguado

cidade de azueira, setembro de 2012
amigo,
estou perdido no tempo. nada de novo nisso. a grande diferença é que agora possuo outro molde.
ela me moldou a seu gosto. me encaminhou. me fez andar por sobre fios elétricos que percorrem todos os postos da cidade. depois de me moldar, jogou fora a peça final desse trabalho de artesão.
cá estou agora sem as mãos que me fizeram ser o que sou. ela, deus. no país de onde escrevo pouca coisa mudou. ainda se carece muito de palavras por aqui. os analfabetos de coração enchem as ruas em busca de amor, sendo que o coração não aprendeu a amar. eles não sabem o que é amor. nem eu sei. pensei que sabia. o amor me moldou. ela. sigo em frente, esperando novas fôrmas. perpétua mudança.
abraços,
carlos minguado

advertência

embaixo.

a si mesmo
é encontrar
provável
o mais
pular,
decidir
você
que
depois
advertência: