sexta-feira, 27 de maio de 2011

gengiva

parte da gengiva retirada. o herói cambaleava. no seu rosto via-se algo que vai além da simples dor física. uma lembrança talvez. algo que dói um pouco mais. ele avistava agora sua antiga casa. mas sem hesitar a explode com 10 kg de explosivos. cambaleando o herói olha para a frente. sangue sobre os dentes. serpentes aos seus pés. intromissão rápida. no canto esquerdo da sua visão ele enxerga um anúncio antigo da coca-cola. sente sede. gelado faria bem sobre a carne viva na boca. mas no seu caminho não há paradas. sem cambalear ele decide que cambalear faz parte do seu jeito de andar. e que tudo afinal está como antes. nessa visão complicada das coisas, ainda que uma resolução simples, ele encontra um pouco de paz. continua o caminho. explode mais dois ou três prédios. sem ligação alguma com a infância, nem com o presente, adulto. prevê que seu caminho chega ao fim. mais sangue brota da ferida aberta. uma ave passa por ele. ele não teme. vê um sorriso. ao lado da estrada. se concentra naquele sorriso. aquele sorriso é tudo pra ele agora. nada mais importa. larga suas bombas. deita-se no chão. olhado do alto se assemelha a um anjo. mas quem o olharia do alto. ninguém. o sorriso. marcado na parede. só um sorriso. o herói fecha os olhos. sua missão não foi cumprida. faltou um prédio a ser detonado. na parede o sorriso começa a sangrar. logo aparece o caminhão de lixo. adeus ao herói. prédios se recompondo. gengiva que sangra. na parede. só nela. sem mais explosões naquele dia.

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