quarta-feira, 16 de novembro de 2011

a história da míngua língua na terra da tv e da fumaça invisível

tua míngua língua solta farpas
tua ignorante mente acha que o mundo é simples
nada disso existe sem tu
e com tu o mundo roda

tua singeleza ao pisar nos outros
é como um elefante a pisar nas flores
as flores gritam
mas ninguém as escuta

fritas o teu cérebro em frente a tv
encontras virtudes nos mais seletos condimentos
procuras andar sempre com incrementos
mesmo sabendo que teu nome constará numa lápide e só

apontas o dedo na cara do mais fraco
torces pelo policial que atira no mais fraco
sem saber que és, tu
tão fraco quanto os fracos

enquanto o forte
enrola notas dólares
e fuma, fuma, fuma
joga a fumaça na tua cara

o câncer cresce do inalar passivo
clamas por salvação
levantas para mudar de canal
teu controle remoto pifou

ele está no planalto
e fica chapado com teu dinheiro
e o arrancas de lá?
não. é preferível bater no mais fraco e acreditar que o poder age em teu favor.

é simples assim
porque é demais complicado
empurre goela abaixo
a fumaça, que sentes te cortar, mas que preferes ignorar

talvez porque ela seja incolor, insípida e inodora.
mas quão instável somos nós?

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Li bélu la


Seu zumbido encarou meus olhos. Seus olhos grandes panorâmicos encararam minhas orelhas. Suas asas bateram ainda por alguns microssegundos, até pararem e suas patas descansarem sobre a parede branca, imunda. A tela verde da janela não impediu que ela entrasse. Nada impediria que ela estivesse ali. Meu quarto era dela também. As asas voltaram a bater. Apaguei minha lâmpada. Ela cessou o voo.

Fechei os olhos e dormi, com ela ali no quarto, em algum canto escuro. Próximo aos livros, talvez. Amanheceu. Olho para as paredes a procura dela. Lá está. Imóvel. Na parede imunda. Parece até uma das tantas manchas em formato singular que aparecem sem querer e que nos lembram de algo. Ela não me lembra de algo. Ela é algo. Foi seu último voo. Ela veio até meu quarto pra morrer. Parada. Rígida. Na minha parede.

Sem mais voos. Sem mais zumbidos. Sem mais olhos e sons que se misturam. Eu a tomo pelas asas semitransparentes. Essas redes finas que a faziam ir e vir. Que a trouxeram até aqui. Seu corpo comprido cabe na palma das minhas mãos. Dou meia volta. Saio pela porta do quarto. No meu caminho algumas chuvas de papel picado invisíveis. Algumas homenagens prestadas por formigas. Mais paredes sujas. No som toca alguma marcha fúnebre inaudível. Chego à janela da sala. Nela não há tela verde. Os insetos lá fora zumbem, cantam e buzinam. Sons de pneus. Árvores um pouco distantes. Ponho minhas mãos pra fora. Abro-as. O corpo dela flutua. O túmulo dela é feito de ar, até que ela se choque ao chão e seja engolida pela terra ou pelos seus irmãos insetos. Descanse em paz, jacinta.