segunda-feira, 28 de maio de 2007

ensaio já muito ensaiado ou aquilo que já foi dito sobre a vida e o cinema

Acordar. Enfrentar um dia de calor. Ônibus lotado. Parece que agora tudo eu posso esperar ouvindo música bem perto dos meus tímpanos. O fone de ouvido alcança uma dimensão íntima. Uma relação realmente individualizada com a música. Como se alguém me contasse um segredo bem ao pé do ouvido.
O segredo depende do dia. Pode ser em dias revoltos ouvindo os segredos berrados, ou um dia calmo ouvindo os segredos mais calmos e hipnotizantes que existem. E ao falar em hipnotizar me vem a cabeça uma idéia que revoltamente se desenvolve em meu cérebro, tomando forma do que parece ser um simples ensaio. Hipnotizar me lembra o cinema e suas incessantes imagens que acostumam nossos olhares para o que o mundo nos mostra todos os dias vivendo entre cortados de correria, como uma professora falou em certa aula sobre a idéia do cinema preparar o homem moderno para o choque diário que ele tem com as imagens da grande cidade. O choque com as pessoas, idéia aliás desenvolvida por um autor que já citei aqui.
O filme tem imagem e tem som. Tem uma trilha que faz seu papel de guiar as imagens, como se regessem a história que vemos no momento em que a música toca. Assim passa a ser a vida. Ando por aí. Muitas imagens a passar. Muitos frames. Agora canções embalam esses momentos. Agora parece que a vida é filme. Já disseram isso muitas vezes. Já passaram por isso muitas vezes. E passa um outdoor de novo. E um poste. Um mendigo ali sentado. Alguém esbarra em alguém. Nenhum dos alguéns nem se olha. Eu olho os dois. A música termina. Eles ficaram pra trás.

Noturno Arrabaleiro
Os grilos... o grilos... Meu Deus, se a gente
Pudesse
Puxar
Por uma
Perna
Um só
Grilo,
Se desfiariam todas as estrelas.

Mário Quintana

sem versos meus dessa vez

Isso continua sendo abstrato e inconsciente.